DÉBORA GUIMARÃES
Exposição Quedas (2019), RJ
Quedas, é a primeira mostra individual de Débora Guimarães. Reúne 10 de seus trabalhos mais recentes numa casa especialmente por ela alugada para mostra-los. Tal produção, no entanto, não possui qualquer unidade formal, ou coerência espacial, cromática e midiática requerida para caracterização de uma autoria ou de um estilo próprio.
O sentido destas Quedas trafega, portanto, na contra-mão dos enquadramentos teórico-explicativos acionados pela história da arte para trazer à luz uma suposta unidade poética inteligível exigida de uma obra. Nas quedas de Débora não se encontram recorrências formais que expliquem seu evidente foco político (quase panfletário) em temas atuais, como o da luta contra a expansão do neofascismo ou micropolíticos, pautados pelas lutas contra as muitas formas de preconceito: de gênero (misoginia, homofobia), de raça e da preservação do meio ambiente.
No entanto, a onipresença de tais temas do cotidiano sócio-político brasileiro, manifesta nos trabalhos aqui expostos, evidencia-se nos títulos dessas obras, sempre alusivos à situação atual do país.
Há, porém, nos trabalhos que integram estas Quedas, um traço comum que as caracteriza para além de seu conteúdo político específico. Tal traço é sua total diferença tanto nos materiais por ela utilizados, quando em sua organização obra a obra, por meio de configurações sempre diversas.
- Fernando Cocchiarale
Em Quedas são reunidos trabalhos inéditos e outros de retrospectiva da produção de Débora Guimarães que conduz sua primeira individual a partir de um contexto ocupacional; sendo assim, uma exposição dentro de uma casa que enquadra dentre os diferentes interesses de gancho político que permeia toda a produção da artista, a luta pelo espaço de direito das minorias que produzem micropolíticas para resistência e sobrevivência dentro das malhas da sociedade – e no circuito de arte – e o direcionamento social ao direito de ocupar, dividir, aglomerar e formas população, que fazem de sua presença a potência de sua poética visceral.
A partir de dados apreendidos do cotidiano somados a versatilidade material e de suportes aqui presentes, a exposição busca tensionar assuntos do contexto sócio-político brasileiro em suas diferentes instâncias, seja na forma de um golpe direto ao Estado de poder vigente e seus agentes ou nas pautas ambientais incertas que cerceiam o país. Embora alguns trabalhos de dimensão instalativa produzam leituras mais dinâmicas e humoradas, a produção poética de Débora intensifica sua enigmática no campo da fotografia ou através dos dispositivos de áudio que, hora ou outra, surpreendem o silêncio de observação do espectador.
Para além disto, Débora potencializa o teor ocupacional da exposição a partir de outros dois espaços que intitula de Lounge e Quarto dos Artistas, no quais artistas de afinidade poética a de Débora são convidados a estabelecerem paralelos poéticos-visuais diante da diversidade presente em seus múltiplos suportes. A exposição reforça assim o desejo de produzir paralelos sociais e territórios visuais – através da poesia, dos materiais e dos muitos outros dispositivos de aspecto digital – em sua composição espacial que, a partir de um questionamento do Brasil atual produz enigmáticas e inusitadas possibilidades de um país em queda, novamente, à margem do terceiro mundo.
- Yago Toscano