DÉBORA GUIMARÃES
Exposição Indícios (2018), Paço Imperial/RJ
Indícios resulta de um aprendizado coletivo, de artistas e curadores em processos paralelos de produção que aqui, afinal, convergem.
Produção, do latim producere, quer dizer “fazer aparecer”, como as obras desta mostra que, ora deflagram, ora são a coisa a ser deflagrada. A poeira, o rastro e o vestígio, são todos indícios da passagem de tempo. Partindo disto, pode-se dizer que o tempo e a produção de arte possuem uma proximidade para além de suas vicissitudes históricas – eis aqui uma percepção ou linguagem a ser capturada e compreendida – pois compreende-se a produção da matéria.
O que se vê são obras ativadas por índices, portas de entrada para a motivação originária que, no entanto, permanecerá incógnita. Eventualmente, entre brechas e frestas, pedaços de histórias se deixam entrever, referências particulares e ampliadas. Mas não são explicações. As obras não precisam de porquês. Não representam coisas ou conceitos, mas negociam repertórios que acionam o gatilho do processo poético, um ritual de busca em que não se chega a lugar algum – e nem se quer chegar.
Neste índice do que se faz aparecer e do rastro, há a percepção dos sintomas e contingências observados na produção de 28 artistas, que a partir de gestos pessoais debatidos em grupo possibilitam a estruturação de três tropos fundamentais para a construção simbólica desta exposição: o sujeito, o ambiente e a coletividade. São ecos em que as relações com o mundo, com a política, com a percepção do corpo na sociedade, com sua biografia, com o feminino, com a saúde púbica, com o que é orgânico e a cidade se sobrepõem em um lugar em que as reminiscências se fazem presentes, onde vestígios ocasionam um estado de obra.
Débora Guimarães é artista e poeta, seu trabalho é atravessado por reflexões estético-políticas, pela apropriação e pelo ativismo. Atualmente sua produção reflete os acontecimentos cotidianos de violência promovidos pelas instituições vigilantes de poder, e busca conduzir os olhares à denúncia, à percepção das sutilezas e ao horror do arbítrio.
- Ana Beatriz Duarte e Yago Toscano (co-curadores)