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Exposição Ainda fazemos as coisas em grupo (2020), Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica/RJ

Semanalmente, em torno de uma grande mesa, cerca de trinta pessoas se reúnem em uma das salas da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Vêm de lugares distintos da cidade, bem como da vida. Diante de suas diferenças e contradições, inventam um espaço-tempo de escuta e de confiança para partilhar poéticas e intenções, fazendo do curso de Conversas de arte um território de criação fundado na diversidade que o constitui. Compartilhar parte do que construímos em 2019 é o que nos move em Ainda fazemos as coisas em grupo: uma exposição de encerramento que é também uma preciosa oportunidade de aprendizado em torno da urgência de agir nos espaços públicos a partir dos imaginários e dos universos sensíveis que a criação mobiliza.

 

Dedicar-se a um gesto coletivo ao fim deste ano de radicalização da violência contra a diferença – das mais silenciosas às mais escandalosas formas de discriminação – parece-nos um exercício inadiável. Em sua premência, persistir em grupo impõe, por sua vez, que sejam acolhidas e fortalecidas as singularidades e salvaguardando o direito à diferença, em razão do que ainda fazemos as coisas em grupo se dá em duas partes, 1 e 2, nas quais são apresentadxs artistas diferentes, avizinhadx por interesses poéticos, políticos e estéticos.

 

Ainda fazemos as coisas em grupo – parte 1 reúne obras em torno da experiência de vulnerabilidade: xs corpxs, seus traumas e feridas, o tempo que demarca a história, processos de fragilidade e de empoderamento subjetivo e social. Por sua vez, Ainda fazemos as coisas em grupo – parte 2 convoca a cidade, a arte e seus modos de sociabilidade, reunindo trabalhos que atentam para os regimes de poder, de discursividade, de visibilidade, de violência e de institucionalidade que identificam, organizam e disciplinam as intencionalidades, os pensamentos e as práticas nos mais diversos âmbitos da vida.

 

Encerrando os aprendizados deste ano e inaugurando os que decerto se farão em 2020, esta exposição convida os públicos do Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica a encorpar as coletividades do mundo para que, em grupo, continuemos aprendendo e fazendo.

 

Débora Guimarães se mantém em estado de atenção constante àquilo que se passa no país – principalmente às intricadas tramas de suas relações sociais. São objetos de seu alarme as mais diversas formas de violência e de perpetuação da injustiça social que caracteriza a história do Brasil, em razão do que seus trabalhos muitas vezes trazem denúncias, críticas e comentários acerca de situações sustentadas pela cegueira política por meio da qual teimamos em nos caracterizar. Neste contexto, o tráfico de drogas, as milícias, os crimes ambientais e acontecimentos trágicos como o incêndio do Museu Nacional se tornam alvo de seu escrutínio poético-político, que investia os memoricídios que nos afligem em fantasmagorias que rondam nossos dias, nossas comunidades, nossos governos, nossas florestas, nossas cidades. É em resposta a esse cenário que se a artista elaborou Verdade Absoluta, onde a palavra resistência se materializa em luz vermelha, circulando incessantemente no espaço. Afinal, com Deleuze pensamos que a afinidade fundamental da obra de arte é com a resistência. Só o ato de resistência sobrevive à morte, seja sob a forma de arte, seja sob a forma de luta entre os humanos.

- Ana Miguel, Brígida Baltar e Clarissa Diniz

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